domingo, julho 12, 2009

Projecto: David Lynch

20।000 milhas em setenta dias: tudo para produzir uma série de entrevistas "imprevistas"। Interview Project é a mais recente "loucura" de David Lynch।David Lynch continua apostado em baralhar a "ordem natural das coisas". O realizador de "Dune", "Twin Peaks" e "Mulholland Drive" lançou um website, "Interview Project", em que entrevista anónimos escolhidos ao acaso um pouco por todos os estados dos EUA. Para este projecto, Lynch percorreu mais de 32 mil quilómetros em setenta dias para entrevistar personagens encontradas em pubs ou estações de serviços. Os Estados Unidos desconhecidos, sob análise de um mestre do cinema dito onírico, chega-nos através de http://interviewproject.davidlynch.com. Durante um ano, as 121 pequenas entrevistas serão publicadas no site a um ritmo de uma por dia, com o intuito de "conhecer as pessoas", como refere Lynch na apresentação do projecto, disponível no site. O primeiro entrevistado, um veterano da guerra do Vietname chamado "apenas" Jess, foi encontrado sentado à beira de uma estrada na localidade de Needles, Califórnia. De Jess, que casou com uma mulher "que gostava de drogas e de outros homens" mais do que dele, ouvimos a história de uma vida banal, como muitas outras e que traz para o espaço público uma existência que de outra forma não chegaria até nós. Da América profunda.

quarta-feira, junho 24, 2009

A DIFERENÇA ENTRE FORÇA E CORAGEM
É preciso ter força para ser firme, mas é preciso coragem para ser gentil.
É preciso ter força para se defender, mas é preciso coragem para baixar a guarda.
É preciso ter força para ganhar uma guerra, mas é preciso coragem para se render.
É preciso ter força para estar certo, mas é preciso coragem para ter dúvida.
É preciso ter força para manter-se em forma, mas é preciso coragem para ficar de pé.
É preciso ter força para sentir a dor de um amigo, mas é preciso coragem para sentir as próprias dores.
É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los. É preciso ter força para suportar o abuso, mas é preciso coragem para fazê-lo parar.
É preciso ter força para ficar sozinho, mas é preciso coragem para pedir apoio.
É preciso ter força para amar, mas é preciso coragem para ser amado.
É preciso ter força para sobreviver, mas é preciso coragem para viver.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Poeta Castrado, Não!

Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegada poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
De fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia !

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

in SANTOS, Ary dos. - Resumo. Lisboa, 1973.

sábado, junho 28, 2008

Morning Yearning

a finger's touch upon my lips
it's a morning yearning
pull the curtains shut, try to keep it dark
but the sun is burning

the world awakens on the run
and will soon be earning
with hopes of better days to come
it's a morning yearning another day,

another chance to get it right
must i still be learning
baby crying kept us up all night
with her morning yearning

like a summer rose, i'm a victim of the fall
but am soon returning
your love's the warmest place the sun ever shines
my morning yearning

Written by: Ben Harper

sexta-feira, outubro 12, 2007

Relações de Sucessos como extenções do Jornal a Gazeta de Lisboa

Introdução:


A origem desta tese remonta à minha licenciatura em Comunicação Social entre os anos de 1998 e 2002 e todo o interesse que a comunicação e as diversas formas em que se processa me desperta. Porém, foi durante os seminários da pós-graduação em Culturas Ibéricas na Época Moderna que tomei conhecimento da temática ‘Relações de Sucessos’, mais especificamente com a professora Dr.ª Ana Martinez, que nos alertou, entre outras coisas, para a importância destas publicações para a história do Jornalismo e da Literatura – como preferirem definir uma relação – em Portugal.
O facto de estarem umbilicalmente ligadas a um órgão de comunicação teve muito peso no despertar do meu interesse pela temática, uma vez que se poderiam tirar daqui informações bastantes valiosas para a minha área de actividade, depois de devidamente investigadas.
Foi então que, com o apoio em exclusivo da Dr.ª Ana Martinez e de alguns familiares bem próximos, pus mãos à obra e iniciei a minha investigação sobre as tão faladas relações de sucessos, mais precisamente as relações de sucessos como extensão dos órgãos de comunicação, neste caso especifico a ‘Gazeta de Lisboa’ – o primeiro jornal português.
A Dr.ª Ana Martinez, como orientadora de tese, chamou-me a atenção para um aspecto bastante curioso na Gazeta de Lisboa – o facto de Monterroio Mascarenhas, historiador e escritor, se dedicar intensamente ao jornal ao ponto de ser editor e redactor exclusivo, durante a existência do periódico, inclusivamente responsável pela redacção e selecção das relações de sucessos anexas ao mesmo. Esta curiosidade levou-me até à biblioteca nacional e à consulta de alguma bibliografia para que pudesse ser comprovado este aspecto. E assim foi, não só comprovei a permanência de Monterroio Mascarenhas na ‘Gazeta de Lisboa’ como também aprofundei a minha investigação e percebi então que as Relações de Sucessos não eram nem mais nem menos que extensões da Gazeta, usadas para sobressair, de forma parcial, alguns aspectos que a corte considerasse do seu interesse, ou aspectos meramente lúdicos de entretenimento social. Muitas vezes o facto de serem vendidas separadamente – com forma de suplemento, levava a fidelizar o leitor, obrigando-o a comprar posteriormente o desenrolar da notícia na relação, o que na minha opinião mostra, já na época moderna, alguma preocupação com as questões da rentabilização do jornal bem como da sua promoção e publicidade.
Não foram levados a cabo estudos relativos à forma ou estilo literário nem tão pouco ao seu conteúdo histórico. O estudo permaneceu única e exclusivamente focado na importância das relações de sucessos para os órgãos de comunicação social da época, de que forma se complementavam e distinguiam entre si comparativamente com a actualidade, podendo ser apreciados casos semelhantes de mediatização, 'lobbies', sensacionalismos e parcialidade e, entre outras semelhanças, deparei-me com técnicas absolutamente actuais e intemporais de Marketing – palavrão desconhecido durante a época moderna.
Nas linhas que se seguem serão explanadas ideias gerais do estudo realizado ao longo de trinta e sete meses em redor desta arte que é a comunicação, numa das suas mais distintas formas de expressão.




O que são então Relações de Sucessos

As relações de Sucesso são documentos que narram um acontecimento ocorrido e por vezes inventado, mas verosímil, com a finalidade de informar, entreter ou comover o público. Tratam de diversos temas como acontecimentos histórico-politicos, sucessos monárquicos, festas religiosas ou cortesãs, viagens, sucessos extraordinários como catástrofes naturais, milagres, desgraças pessoais, entre outros.
A sua forma também varia. Pode ser manuscrita ou impressa, estar em verso ou prosa e constar de uma só folha de papel ou chegar mesmo a ter as dimensões de um livro volumoso.
Surgem no século XV vinculadas ao género epistolar: A carta-relação, que informa geralmente um particular de algum acontecimento visionado pelo emissor. O seu uso foi-se estendendo pelo século XVI onde aparece a relação de sucesso de forma autónoma dirigida a um público mais amplo, para alcançar o seu apogeu no século XVII, sobretudo nos reinados de Filipe IV e Carlos II.
O seu desaparecimento está condicionado ao nascimento e êxito das Gazetas, já no século XVIII, que ampliam o mundo informativo ao contar as notícias.
A existência de Relações constata-se por toda a Europa, se bem que a sua edição decai com o auge das gazetas. À excepção de Espanha, onde aparecem como relato de um acontecimento ocasional e nunca periódico, perduram largamente com o novo estilo.
As relações tinham como função fazer perpetuar um feito a um leitor intemporal e transmitir uma informação quase sempre subjectiva e – em alguns casos – dirigida desde os sectores mais altos da sociedade.
O redactor escreve desde o seu ponto de vista, suprimindo ou inventando o que lhe parece, de tal forma que sempre que seja verídico o sucesso que conta, coloca sempre no título o adjectivo ‘verdadeira’ relação, com a finalidade de impressionar o receptor e seduzi-lo a comprar e a ler a mesma.
Através destes documentos reflectem-se muitos aspectos da cultura da Idade Moderna europeia. Trata-se de um material de valor inapreciável para os estudiosos da história, literatura, história das mentalidades, Antropologia, história da Arte, sociologia e sociologia da educação. Apesar da duvidosa qualidade literária destas relações está justificada até agora a escassez de investigações profundas sobre elas, a variada e rica informação que oferecem em vida ao estudo destes documentos e da sua riqueza vário pinta.
Até ao momento não existe um catálogo de relações de sucesso que englobe todas as relações no seu período de existência, só existem catálogos generalistas que cobrem diversos aspectos do seu estudo. O primeiro reportório de relações que conhecemos é o realizado por D. Jenaro Alenda e Mira (1903) referindo-se exclusivamente às relações de festas e é um instrumento valiosíssimo porque as descreve detalhadamente, nem sempre dá conta das relações que referem sucessos de outros temas, assim como outras datas que seriam de grande ajuda: localização, assinaturas, tamanho, número de paginas, encadernação, entre outros. Actualmente existem já abundantes trabalhos que estudam aspectos concretos das relações de sucessos, atendendo sobretudo às diversas tipologias de relações, em especial as festivas.
Os avanços informáticos incorporados nos trabalhos de catalogação permitem agora que se possa pensar num amplo projecto intelectual, com uma equipa multidisciplinar que aborde a sistemática catalogação de relações de sucessos espanholas conforme os critérios que permitam o seu estudo detalhado.

Das relações de sucessos ao nascimento do primeiro jornal

De uma maneira geral, pode dizer-se que o jornalismo nasceu, em Portugal como em qualquer outro País, da confluência de 3 factores distintos: o progresso da tipografia, a melhoria das comunicações e o interesse do público pela notícia.
Durante algum tempo manteve-se a ideia de que a imprensa periódica começara em Portugal com as referidas ‘relações de Severim de Faria’, no entanto, não podem assinalar o início do periodismo no nosso País por lhes faltar duas condições essenciais: a periodicidade e a continuidade ou encadeamento.
Estas características, aliadas à do objectivo eminentemente informativo, só se reúnem pela primeira vez nas chamadas ‘Gazetas da Restauração’, a primeira das quais tem o título, longo como todos os desse tempo, de ‘Gazeta em que se relatam as novas todas que houve nesta corte e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641’.
No século XIX o grande veículo de propaganda política era a oratória sagrada, que tinha como figura dominante o padre António Vieira. Como dizia Sampaio Bruno: «Pregador era a maneira antiga de ser jornalista, como jornalista é a maneira moderna de ser pregador».
As relações não diminuíam com o aparecimento da Gazeta. Toda uma profusa Literatura de carácter panfletário, que incluía coplas, resumos, romances, cartas, entre outros – os quais ao mesmo tempo que manifestava aminosidade para com os espanhóis – não escondia a sua desconfiança em relação à alta aristocracia. Esses meios visavam superar as limitações da comunicação pelo livro, para alcançar, de forma rápida e fácil, um mais largo público interessado nos importantes acontecimentos que o País atravessava.
É nessa efervescência política, acompanhada de intensa agitação de ideias, que se inscreve o aparecimento entre nós do jornalismo. O mais importante significado que apresenta é, pois, o de tornar periódica uma informação que até aí fora irregular, ao saber da gravidade dos acontecimentos ou da vontade dos impressores.
Embora as condições fossem mais favoráveis após a restauração, a primeira Gazeta portuguesa estava ainda submetida às regras da censura previa estabelecidas na cerca de Filipe II e confirmadas por D. João IV pela lei de 29 de Janeiro de 1643, de acordo com as quais «não se imprimiam livros sem licença d’El-Rei». Poucos meses depois do começo da ‘Gazeta’, em 19 de Agosto de 1642, uma lei proibia as ‘Gazetas Gerais’, com notícias do reino ou de fora, em razão da pouca verdade de muitas e do mau estilo de todas elas».


O estabelecimento da Imprensa na ‘Gazeta de Lisboa’

O primeiro jornal setecentista conhecido é a Gazeta de que apenas se sabe existiram dois números, referentes aos meses de Agosto e Outubro de 1704. Não há notícia de outro até 1715, data em que aparece a ‘Gazeta de Lisboa’, com o fim de dar notícias nacionais e estrangeiras e as nomeações do governo português. Tornou-se assim a folha oficial, a exemplo do que acontecera, a partir de meados do século XVII, em diversos países da Europa onde surgiram periódicos oficiais ou oficiosos. No seu inicio, era redigida por José Freire de Monterroio Mascarenhas, acabando por exercer esse cargo por mais de 40 anos. Segundo a carta de privilégio que obtivera em 3 de Julho de 1752, oito anos antes de morrer, para publicar a ‘Gazeta’ enquanto fosse vivo, o periódico havia de aparecer uma vez por semana, às quintas-feiras, devendo cada número conter «quatro quartos de papel». Era imposta a qualquer pessoa «que se metesse a imprimir algum dos oito papéis» a pena de 50 cruzados, metade para a Real Câmara e metade para o acusador, perdendo também todas as gazetas que lhe fossem apreendidas «para o mesmo deprecante». Com os 5 números de Janeiro de 1760 findou a chamada «colecção das ‘Gazetas’ de Monterroio». Em 23 de Fevereiro seguinte foi-lhe concedido o privilegio de fazer a ‘Gazeta de Lisboa’ aos oficiais das secretarias dos Negócios Estrangeiros e de Guerra, então agregadas, a fim de que eles pudessem assim receber quantia suplementar, «atendendo a que os oficiais da Secretaria de estado da repartição dos Negócios Estrangeiros e da Guerra não recebem de suas ocupações alguns emolumentos, percebendo-as os oficiais das outras secretarias de estado. Por isso, a ‘Gazeta de Lisboa’ era então conhecida como ‘dos oficiais de secretaria’ e, publicada por conta deles próprios, ia-lhes dando apreciáveis proventos. Recomeçou, pois, em 22 de Julho de 1760, agora redigida pelo célebre poeta Pedro António Correia Garção, até 8 de Julho de 1762, data em que foi mandada suspender por ordem do governo pombalino (a última gazeta dessa época tem o número 23 e data de 15 de Junho de 1762). Embora possa dizer-se nunca ter exercido, ao longo da sua extensa vida, influência considerável nem atingido elevado nível, a ‘Gazeta de Lisboa’, longínquo antepassado do actual ‘Diário da República’, tem uma existência acidentada e interessante.


José Freire Monterroio Mascarenhas e a continuidade

José Freire Monterroio Mascarenhas foi um historiador curioso que nos deixou uma extensa memória da primeira metade do século XVIII em forma de notícias e relações que recebia, lia, seleccionava, traduzia, adaptava, escrevia e muitas vezes inventava.
Nascido em Lisboa em Março de 1670 era aficionado às letras desde jovem, formou parte de diversas Academias ao longo da sua vida: a dos Únicos, dos Canoros, dos Generosos, dos Anónimos, dos Aplicados. Passou dez anos da sua vida viajando pela Europa, terminando a sua formação e familiarizando-se com vários idiomas. No seu regresso a Portugal serviu como Capitão de Cavalaria na guerra de sucessão espanhola, entre 1704 e 1710.
O mais destacável da sua actividade profissional foi a autoria da ‘Gazeta de Lisboa’, publicação periódica que apareceu de forma ininterrupta entre 1715 e 1760, com periodicidade semanal. Durante todo este tempo o director e redactor foi Mascarenhas quem, a partir de 1752, obteve também o privilégio da sua impressão. É de destacar que nem depois do terramoto de 1 de Novembro de 1755 se interrompeu a sua publicação.
Desde o número 37 de 1742 até 1752 publicou-se também um ‘Suplemento à Gazeta de Lisboa’, organizado do mesmo modo, com notícias de diferentes países; poderia considerar-se então que a Gazeta nessa época era bissemanal. Também era Monterroio quem redigia este suplemento. Quando falamos em redigir referimo-nos à realização completa de toda a publicação: ele recebia as notícias do estrangeiro e seleccionava-as, quase sempre procedentes de gazetas, cartas e relações europeias que ele mesmo se encarregava de traduzir.
A redacção da Gazeta dependia em grande proporção das gazetas procedentes da Europa, não era uma mera tradução exclusiva de nenhuma em particular: o material era revisado e seleccionado de varias delas e ele intervinha no texto. Tinha também em conta outras fontes orais e manuscritas.
O trabalho de Mascarenhas ao mando da Gazeta de Lisboa é inseparável da sua faceta de escritor de relações: vemos em ambos os tipos de publicações um desenvolvimento paralelo.
Mascarenhas tinha muito clara a diferença que devia existir entre as notícias redigidas para a Gazeta e o maior detalhe que podia oferecer numa relação: ele mesmo assinalava como justificação para a escritura de algumas relações essa maior liberdade e amplitude que lhe permitia a publicação isenta, convertida deste modo numa continuação detalhada das notícias.
Muitas destas relações encontram-se anunciadas na ultima pagina da Gazeta, junto a noticias sobre livros recentemente impressos, publicidade sobre cursos de idiomas, livros perdidos e roubados, ou numerosos anúncios de compra/venda e procura de escravos com a descrição dos mesmos e a oferta de uma recompensa pela sua recuperação.
Não se sabe quem seleccionava os anúncios da Gazeta nem quais eram os critérios. O próprio Mascarenhas recebia pedidos para pôr anúncios na Gazeta, mas também os recebia os editores. Isto quer dizer que os anúncios que vemos nas gazetas em sempre correspondiam aos desejos dos seus directores/redactores, a menos que correspondesse a um interesse lucrativo por parte dos editores. Parece que houve uma vez em que Mascarenhas não estava de acordo com essa selecção que muitas vezes sem o saber reviam e acrescentavam os editores: foi mais um dos conflitos que levaram a solicitar para ele o privilégio de impressão só concedido em 1752.


Os critérios dos conteúdos

A transmissão de notícias na ‘Gazeta de Lisboa’ procura inserir os acontecimentos que relata numa continuidade histórica. Ela não se rege por poucos critérios de novidade. A definição de «novidade» ou «notícia» para um período como a Gazeta depende do seu carácter histórico, as quais não coincidem com as concepções jornalísticas de notícia que nos são hoje familiares.
Na gazeta narravam-se eventos de uma forma que tendia a reproduzir e fazer reconhecer um estado inalterado dos acontecimentos: gestos familiares, susceptíveis de reconhecimento pelos leitores de uma sociedade assente na tradição. O registo desses factos dependia de canais próprios de informação, bem definidos: as gazetas estrangeiras, a correspondência, a existência de testemunhas com dignidade abonatória, possuindo um carácter credibilizador das notícias publicadas no periódico.
A inclusão de determinadas notícias podia assim depender da dignidade social de quem solicitava a sua publicação ou do círculo mais restrito de amizades e relações do redactor. Ela dependia também do que a vigilância censória deixava passar. No topo da hierarquia da selecção noticiosa ficavam o rei e a família real, com as suas viagens, lazeres e estado de saúde. Depois, vinham os principais acontecimentos públicos ocorridos na corte envolvendo a nobreza cortesã, as mais importantes cerimónias religiosas e académicas e, eventualmente, acontecimentos do mesmo tipo nas principais cidades e províncias do reino.
Por fim, para concluir esta caracterização genérica das notícias, devemos esforçar-nos por inserir periódicos impressos como a Gazeta num ambiente em que a oralidade permanece dominante e em que o ver e o dizer são maioritários. A Gazeta tinha uma circulação relativamente restrita, não informava um grande público abstracto. As principais notícias e anúncios que incluía diziam respeito à cidade de Lisboa. Por isso mesmo, acontecimentos conhecidos de toda a população lisboeta não careciam nela de «relação particular», não precisavam de ser noticiados. O exemplo paradigmático é o terramoto de 1755: é escusado procurar na Gazeta uma notícia de que ocorreu um grande tremor de terra na cidade no 1º de Novembro de 1755. Essa é uma novidade bem conhecida de todos – e por isso não se lhe confere esse estatuto no periódico; é no interior desse acontecimento consabido que, aí sim, podemos encontrar notícias dignas de registo.
Não se pode afirmar que o público da Gazeta não se recrutasse entre os meios da Corte, da administração ou dos negócios. Para estes sectores da sociedade, estar atento ao conteúdo da Gazeta da Corte – como ela era também conhecida – era certamente importante. O que se põe em causa é que o fizessem para nela obterem informações de tipo utilitário, indispensáveis às suas actividades.

A desvalorização noticiosa

Junto de quem procurava informação, a Gazeta tendia a ser desvalorizada enquanto meio de transmissão de notícias. Há vários indícios que apontam para que esse menosprezo tenha sido comum ao longo de todo este período. De facto, como os canais de informação que forneciam Montarroio Mascarenhas assentavam, desde o início da publicação, nos períodos noticiosos do Norte da Europa. Isso fazia retardar o noticiário estrangeiro do periódico português. As notícias que vinham do estrangeiro podiam ser conhecidas com antecedência em relação à Gazeta pela leitura directa desses periódicos. Quanto às notícias sobre o reino, a vigilância política pela censura e pela corte faziam da Gazeta um instrumento demasiado condicionado na obtenção de informação. Quem estivesse interessado em obter notícias mais rápidas e circunstanciadas tinha de recorrer a outras fontes. O contraponto ao condicionamento que pesava sobre a Gazeta era o desenvolvimento de canais alternativos de informação: não apenas a leitura dos periódicos estrangeiros por quem se conseguia ler, como também a alimentação de redes pessoais de informação, que dependiam de oralidade ou da circulação de textos manuscritos, com a correspondência como veículo privilegiado. A agilidade da carta na obtenção de notícias é um fenómeno bem conhecido: as inúmeras correspondências conservadas em arquivos um pouco por toda a Europa sinalizam que o intercâmbio intelectual entre letrados – aqueles que se consideravam membros de uma «República das Letras» – era feito por uma activíssima e periódica troca de informação e de livros, feita por correspondência. O redactor da Gazeta estava inserido numa dessas redes de circulação de informação.
De reprodução menos abundante do que os impressos, os periódicos manuscritos tinham sobre eles a vantagem de não estarem, pelo menos de forma previa e sistemática, sujeitos a censura. Isto tornava a sua redacção mais rápida e, sobretudo, mais circunstanciada.
O discurso curto e satírico em torno das Gazetas impressas, que existiu também em Espanha, é outro dos sinais da insatisfação de um público leitor interessado em ler mais e melhores notícias do que as que elas traziam. Por exemplo, no prólogo da obra ‘Governo do mundo em seco…’, de Manuel José de Paiva, escreve-se: «(…) de fábulas achará o mundo cheio, e notícias tem Roma para dar, e vender; mas se não quer ir tão longe, leia Gazetas e verá o que são mentiras.» Afirmações como esta ajudaram-nos também a contextualizar o tom jocoso de um periódico como o ‘folheto de ambas Lisboas’, impresso na oficina da música entre 1730 e 1731, em que, a começar pelo título e pelo aspecto gráfico, o que ressalta em negativo parece ser uma crítica ao conteúdo da gazeta. Utilizando uma ironia permanente e, aos nossos olhos, bastante cifrada, algumas passagens de referido ‘folheto’ parecem constituir uma paródia do género Gazeta.
O sentido dessa paródia precisa ser investigado, mas as suas notícias ficcionadas poderão ter constituído um contraponto às do periódico da Corte: ausência de noticiário internacional, recurso a tipos sociais satíricos que remetem para a vida urbana e popular. De Lisboa, assim como para o mundo das academias. Na Gazeta, ao contrário, reinava uma rigorosa restrição social, desenrolando-se a maioria das suas notícias entre a família real e a aristocracia cortesã, por um lado, e os certames académicos, por outro.
Aqui chegados, explicitemos melhor a hipótese com que trabalhamos: devido à sua exclusividade como difusor de notícias impressas, uma dupla pressão se terá feito sentir sobre o periódico. Situado entre, por um lado, um condicionamento político directo e um controlo «oficioso» e, por outro, uma insatisfação instável. Essa posição não foi sempre a mesma entre 1715 e 1760. É por isso que, depois desta caracterização genética, se torna necessário averiguar de que forma ele evoluiu e se adaptou.


Histórias da gazeta

A gazeta de Lisboa nasceu por alvará régio e o regime de privilégio real que lhe estava associado garantia-lhe o exclusivo de todas as notícias, gazetas e mais papéis impressos do tipo noticioso. Isso permitiu à coroa manter sob controlo o conteúdo das notícias difundidas na forma impressa, designadamente as que eram relativas à Corte e ao reino. Os primeiros locais de impressão também apontam para a existência de uma proximidade com o Paço: ela era inicialmente impressa em oficinas de impressores régios como Valentim da Costa Deslandes, Pascoal da Silva, José António da Silva ou Pedro Ferreira, que eram também quem fazia as impressões das obras da Academia Real da História, colocada sob patrocínio directo de D. João V.
O privilégio de impressão concedido em 1715 a António Correia de Lemos era amplo: atribuía-lhe direitos sobre a impressão e a comercialização do periódico. Só com o seu consentimento outros impressores e livreiros o podiam fazer. Não sabemos qual era na prática a margem de manobra que o detentor do privilégio tinha para escolher a oficina.
Sabemos, no entanto, que existiu um primeiro litígio entre António Correia de Lemos e o impressor Pedro Ferreira em torno do periódico e que, a partir de 1734, ele passou a ser impresso na própria oficina de António Correia de Lemos. Referimos que um segundo conflito pelo privilégio de impressão se verificou entre os herdeiros de correia de Lemos e Monterroio Mascarenhas e que o dito privilégio acabou, já no reinado de D. José, por ser concedido a este último.
Uma explicação plausível para estas divergências pode ser encontrada na posição de monopólio da Gazeta, a que se associam os dois tipos de pressão a que ela estava sujeita: constrangimentos à publicação de informação rápida e circunstanciada; como uma consequência, uma desvalorização da Gazeta junto de um público mais alargado. No interior dessa relação conflituosa estavam os homens que foram produzindo a publicação ao longo do tempo, redigindo-a e levando-a à estampa. Os litígios existentes entre eles, quando acompanhados de perto, podem trazer-nos um ponto mais de luz sobre as contradições que atravessam a nossa fonte.
António Correia de Lemos e os seus sucessores, na qualidade de impressores e de homens ligados ao ofício do livro, parecem ter sido sensíveis a esse estímulo e procuraram conduzir o periódico para junto de um público mais alargado do que o que ele tinha inicialmente. Esse facto terá levado progressivamente a Gazeta, num período que podemos fazer coincidir com o segundo quartel do século XVIII, e de forma nítida entre 1740 e 1752, para um rumo diferente do inicial. Isso viria a transformar, também lentamente a sua forma e o seu conteúdo.
O «Mapa da despesa…» dá-nos números acerca da tiragem, despesas e receitas do periódico. Entre 1740 e 1748 eram feitos 1500 exemplares por número da ‘Gazeta de Lisboa’, a que se juntavam 1000 exemplares do ‘Suplemento à Gazeta’. Entre 1741 e 1748 o administrador da Gazeta era José Roiz Roles, que começara a exercer essa função à morte de António Correia de Lemos, seu tio. Sabemos também que os suplementos só se iniciam em 1742, mais exactamente a partir de 20 de Setembro. Portanto, e no que toca aos suplementos, esta informação só pode ser válida a partir de 1742. Por outro lado, uma outra informação de que dispomos sobre a tiragem da gazeta, proveniente do ‘Folheto de Lisboa’, e datando de Abril de 1742, dá notícia de um aumento de tiragem de 200 exemplares. Isto numa altura em que, segundo a mesma fonte, se imprimiam até então 450 exemplares.
Na realidade, os primeiros sinais de crescimento da gazeta datam de 1717, com um aumento do número de páginas de quatro para oito páginas. Em 1734, esse número cresceu para as doze. A passagem a bissemanal acentuou essa tendência: ao crescimento do espaço de texto no periódico vinha juntar-se então um maior ritmo noticioso. Ela passava a difundir mais depressa mais notícias vindas de fora, mais notícias sobre o reino e mais anúncios.
Entre 1740 e 1748, segundo o referido «Mapa de despesa…», o preço de venda da Gazeta era de 40 réis e o do ‘Suplemento’ de 30 réis. A diferença de preço entre uma e outra explica-se certamente pelo menor número de páginas que este tinha (8 para 12 da ‘Gazeta’).
Segundo o «Mapa de despesa…», entre 1740 e 1748 a ‘Gazeta’ e os suplementos davam um lucro importante, sendo nessa altura a receita anual da administração de 3098$100 réis (59$580 réis por semana). Segundo este «Mapa…», as receitas do administrador provinham exclusivamente da venda das gazetas. A limitação da venda a um só livreiro nestes anos contrasta com o que aconteceu depois de 1752. Em 1757 há notícia de a ‘gazeta’ à venda na cidade do Porto, na loja do tenente António Pires, Henriques, «mercador de livros na rua dos mercadores». À volta de informação mais definida sobre esta questão – é possível, que os ‘papelistas’ também vendessem ‘Gazetas’ - , os dados recolhidos nos anúncios permitem colocar a hipótese de estarmos perante duas atitudes distintas em relação à venda do periódico. Com uma venda concentrada durante mais de duas décadas e mantendo o grosso das receitas para si, os detentores do privilégio terão podido controlar melhor a gestão do periódico e fazer mais lucro. O periódico entre 1740 e 1749 parece ter sido marcado por esta preocupação: vender mais gazetas e poupar nas despesas.

Susana M. Ribeiro
«Intervenção em centro penitenciário» foi o título do grupo de trabalho apresentado no dia 1 de Junho, no CAT das Taipas, por Santiago Rincón Moreno, médico especialista em medicina familiar e comunitaria e pertencente ao corpo facultativo de instituições penitenciarias, e resumido pela revista dependencias.

Toxicodependentes que ingressam na prisão:
Consumo e praticas de risco I
Uma grande parte tem antecedentes de consumo problemático de drogas.
Comparando a estatistica de 2006 com a de 2000 produziu-se uma diminuição da proporção de consumidores de heroína, tranquilizantes e alucinantes e aumentou a proporção de consumidores de alcool nos ultimos 30 dias em situação de liberdade e na prisão.

Toxicodependentes que ingressam na prisão:
Consumo e praticas de risco II
77,2% dos internos consumia drogas no mês anterior a ingressar, geralmente num contexto de policonsumo.
46.2% eram consumidores de heroína e/ou cocaína como droga principal. De forma secundária também consumiam o resto das substancias.
31% consumiam alcool e cannabis junto com psicofarmacos.
Consumiam em menor medida heroína e/ou cocaína as mulheres (39.8%) e os homens (46,9%) e os estrangeiros (21%) em relação aos espanhois com (52,2%), sendo mais numerosos os consumidores especificos de alcool (24,3%) entre os estrangeiros.

Toxicodependentes que ingressam na prisão:
Consumo e praticas de risco III
Entre os que ingressaram eram consumidores de heroína e/ou cocaína, 49,2% estiveram pelo menos uma vez em tratamento de toxicodependência. 23.8% estiveram em PMM e no momento do ingresso estavam em PMM 16,6%, constituindo-se o mesmo na prisão. Os reclusos durante a sua estadia na prisão consomem menos e trocam de patrão de consumo consoante as substancias que consomem na altura.

30.5% dos internos estiveram alguma vez em tratamento de toxicodepencias na prisão.

Toxicodependentes que ingressam na prisão:
Consumo e praticas de risco IV
21% está actualmente em tratamento de toxicodependencia.
Os reclusos são fumadores de tabaco numa proporção que dobra a população geral ( 73.8% frente a 36.7%).
Problemas asociados:
Efermedades associadas a uma percentagem importante como a seropositividade ao HIV, Hepatite B e C, Tbs, ETS e patologia psiquiatrica.
Carencia de hábitos de aseio e higiene pessoal e escaso contacto com Serviços de Saúde previos e Centros de tratamento de toxicodependencias.
Transtornos de personalidade, com frieza afectiva, pessoal e social. Carencia de habilidades sociales, desestructuração familiar, etc.

Porque se desenvolvem programas para drogodependentes em prisões?
Porque nas Prisões há toxicodependientes
• Porque a prisão, às vezes é o FUNDO que toca o toxicodependente e serve de estimulo para iniciar o tratamento.
• Porque há que rentabilizar terapeuticamente a permanencia na Prisão a quem o deseje.
• Por responsabilidade histórica.
• Por obrigação legal

OBJECTIVOS GERAIS
• Evitar o inicio do consumo de drogas dos abstinentes, minimizar as condutas de risco dos iniciados.
Rentabilizar terapéuticamente a entrada na prisão.
• Continuar proceso reabilitador dos que o haviam iniciado antes do seu ingreso na prisão.
• Estimular o inicio da reabilitação.
• Evitar marginalização do toxicodependente.
• Impulsionar a derivação a dispositivos não penitenciarios (artº 182) aqueles toxicopendientes cujas condições jurídicas, penitenciarias e pessoais o permitam.

OBJETIVOS ESPECIFICOS
• Prevenir o inicio do consumo de drogas e as condutas de rieco.- Programas de prevenção e educação para a saude.
• Prevenir e reduzir os riscos e danos associados ao consumo
• Evitar falecimentos.
• Evitar deterior físico.
• Controlar trastornos de saude associados.
• Diminuir aprogressão da infecção VIH.
• Diminuir conflictividade.
• Modificar hábitos de consumo
• Conseguir periodos de abstinencia.
• Optimizar a incorporação social. Dotar de habilidades para afrontar com éxito o tratamento en liberdade.

INTERVENÇÃO
1.- REDUÇÃO DA OFERTA.
Unidade responsavel: Subdirecção Geral de Tratamento e Gestão Penitenciaria. Representada pelo impedimento e persecução da entrada de substancias tóxicas nos centros Penitenciarios

2.- INTERVENÇÃO SOBRE A DEMANDA
2.1.- PREVENÇÃO
Se priorizarão em cada momento as actividades de prevenção que se adecuem às necesidades populacionais. Serão programas estruturados dirigidos a sensibilizar e informar de una forma clara e compreensivel dos efectos das drogas e suas consequencias. Dotar de habilidades para resolver satisfatoriamente as situações usuais de iniciação ao consumo. Em definitiva melhorar a competencia individual e social.

2.2.- ASSISTENCIA
A intervenção requere um enfoque biopsicosocial através de um trabalho multidisciplinar, desde diversas perspectivas, sanitaria, psicológica, social, formativa, etc. para conformar o melhor projecto pessoal.
2.3.- REINCORPORAÇÃO SOCIAL.-
A reincorporação social contempla um processo complexo de socialização, tratando de apoiar a sua incorporação à vida familiar e meio cultural, laboral e social evitando sua marginalização. É necesario uma preparação progressiva do toxicodependiente enquanto o desenvolvimento de actitudes , habilidades, recursos e aprendizajem que ajudem a melhorar o desenvolvimento pessoal, familiar, social e laboral

1.- INTERVENção AMBULATORIA/CENTRO DE DÍA
Se destinarão espaços adequados no C. Penitenciario onde os profissionais possam desenvolver as actividades terapéuticas. Serão dependencias específicas em cada galeria ou módulo (ambulatorio) ou em dependencia centralizada (c.de día). Tambem se poderão executar naqueles centros onde se desenvolva intervenção e módulo terapéutico, como fase de pre-entrada ou expulsão temporal
O segundo dia de congresso abriu com um Seminário Satélite intitulado ‘Impulsividade, alcoolismo e outras dependências patológicas’ no CAT das Taipas, ao qual a dependências assistiu e elaborou um resumo da apresentação.

Impulsividade e Álcool
• Impulsividade – Predisposição a uma reacção rápida e não planeada frente a estímulos tanto internos como externos, em que não se tem em conta as consequências negativas desta actuação para o próprio ou para outras pessoas.

Diminuição da concentração no LCR de 5HIAA (ácido 5 hidroxindolacético) substracto biológico característico a todas as formas de impulsividade.

“A Impulsividade não pode ser reduzida a um único mecanismo de acção nem a uma área cerebral concreta. Nas suas manifestações estão implicadas múltiplas vias neurorais”

Os neurotransmissores que com maior frequência se relacionam com a impulsividade e são:
- Serotonina
- GABA
- Narodrenalina
- Dopamina
- Glutamato


Impulsividade e Abuso de Substâncias

Vários estudos estabelecem a relação entre impulsividade e abuso de drogas.
- A impulsividade pode surgir como consequência do uso de substância (fenómeno induzido).
- Elevada prevalência de condutas impulsivas em subjectos dependentes de substâncias.

Impulsividade pode ser um factor de vulnerabilidade para os comportamentos adictivos!


Impulsividade como factor induzido pelo consumo de substâncias

2 Processos distintos:
A adicção pode caracterizar-se por um aumento na força do impulso que leva até ao consumo de substâncias (por aumentar as propriedades incentivas da droga e/ou por aumentar as qualidades reforçantes da substância.
Pode estar relacionado com uma diminuição da capacidade de inibir cognitivamente o comportamento impulsivo.

Implicação do Sistema Dopaminérgico
Explica não só o consumo da droga como pode explicar o fenómeno da recaída e a resposta a reforços condicionados
1º Aumento da Dopamina Núcleo Accumbens como consequência de que o consumo repetido pode provocar um aumento da resposta a estímulos condicionantes.
2º As associações estímulo-resposta que contribuem para o reflexo condicionado pode ver-se aumentado pela neuroadaptações induzidas pelas drogas dentro da amigdala.
Estes mecanismos sub corticais podem revelar um aumento da potência do impulso na procura de drogas.
Mecanismos controle dos impulsos podem ser:
- Inactos
- Condicionados
Importância do córtex frontal – funções da Dopamina e Serotonina

Crítica: modelo que compara impulsividade com aprendizagem.

O consumo de drogas como o álcool pode dar lugar a disfunções serotoningérgicas.


A Impulsividade como factor de vulnerabilidade para o abuso de drogas:

- Os indivíduos com abuso de drogas pontuam nas escalas de impulsividade de forma mais elevada que os grupos de controlo.

- Alteração nas provas de comportamento que avaliam a demora do reforço.

ESTUDOS:

- Utilizando o CALIFORNIA PERSONALITY INVENTORY (CPI)

- Questionário de Personalidade de EYSENCK

- KETZENBERG Y FORREST

“Nos Dependentes de substâncias a sua conduta é qualificada como impulsiva e preferem recompensas imediatas face às demoradas”


Transtorno Anti-social da personalidade- Transtorno Limite da Personalidade- S. Hiperactividade e Deficit de AtençãoTranstornos psiquiátricos onde predomina a impulsividade e existe uma alta comorbilidade com o abuso de substâncias.Poderá a Impulsividade ser um traço de personalidade?


Os transtornos por consumo de Drogas incluem os seguintes critérios em que a impulsividade pode estar envolvida.


A substância é tomada em quantidades maiores e por mais tempo que o doente desejaria.
Insistentes desejos e infrutíferos espaços para diminuir o consumo.
Emprega-se muito tempo nas actividades necessárias para obter a substância.
A Substância é consumida apesar das consequências derivadas do seu consumo.
Os critérios 1, 2 e 4 – reflectem um comportamento impulsivo.
O critério 3 já implica uma planificação.
Transtorno de Personalidade e Abuso de Droga- Risperidona- Topiramato“Independentemente de que existe um transtorno do controle dos impulsos comorbido, o topiramato é eficaz na diminuição do desejo e na prevenção das recaídas”


Existe comorbilidade Psiquiátrica com a impulsividade, a agressividade e o suicídio?Dependência Álcool, tipo II CLONNINGER, está associado a:- Início precoce- Antecedentes familiares de Alcoolismo- Conduta Impulsiva- Diminuição de função serotoninérgica


A Impulsividade está presente:- Transtorno limite da Personalidade- Transtorno Anti-social- Várias doenças neurológicas- Síndrome hiperactividade nas criançase associadas com:- Alcoolismo- Abuso de substâncias- Anorexia venosa- Bulimia- Conduta suicida violenta


Tratamento Farmacológico de Impulsividade:- Antipsicóticos – clássicos e atípicos- Benzodiazepinas- SSRI- Buspirona- Litio- Bloqueantes- Bupropion- Anticonvulsivantes - Carbamazepina - Fenitoina - AC Valproatoe mais recentemente: Gabapentina; Lamotrignina (poucos estudos) e Topiramato.
Antiepilépticos na Prevenção da Recaída do Alcoolismo

• Carbamazepina

• Topiramato


Conclusões:
• A nosologia da impulsividade é complexa
• Existem interessantes correlações genéticas, neurobioquimico e psicológicas que conrrelacionam a impulsividade com Ansiedade, Depressão, Agressão e Suicídio, tudo dentro do que se pode designar Espectro Afectivo.
• A neuroquimica centrou-se principalmente na disfunção do sistema Serotoninérgico.
• Trabalhos mais recentes incluem SISTEMA GABA e glutamérgico.
• O Topiramato é um novo antiepiléptico que aumenta a actividade GABA no locus não Benzodiazepinico.

TOPIRAMATO – Fármaco eficaz na terapêutica do Espectro Impulsivo

Elipse: Um projecto de ‘todos’

«A mulher tem menos tolerância à taxa de álcool, no entanto, em termos de taxa e efeito do álcool a mulher é mais forte do que o homem». Foi com esta frase que Ricardo Rodrigues, um dos responsáveis pelo projecto Elipse, em entrevista à revista dependências, revelou algumas das conclusões tiradas pela equipa durante as intervenções de rua, levantando assim o véu para a importância deste projecto na nossa sociedade ao afirmar que: «A nós interessa-nos é que tomem opções informadas dos riscos e das interacções».

O que é o projecto Elipse?

É um projecto que tenta integrar a retenção de riscos e a prevenção, levando até às pessoas o que elas realmente precisam, tentando segmentar o menos possível a oferta em termos de toxicodependências. Neste sentido, temos uma equipa de mediadores que vai para ‘a noite’ às sextas e sábados num determinado local que tanto pode ser uma zona de bares como à porta de uma discoteca. Temos inclusive vários promotores que trabalham connosco no aconselhamento de substâncias e sexo seguro.
Na parte da prevenção interessa-nos prevenir acidentes de viação, ou seja, a condução sobre o efeito de substâncias por um lado e por outro prevenir para a utilização de praticas seguras, seja do uso de substâncias, como em relações sexuais.

De que forma é que o projecto é posto em pratica?

Tudo isto é feito com a equipa de mediadores que vai para a rua abordar as pessoas e informa-las sobre o nosso programa. Oferecemos às pessoas os preservativos bem como a possibilidade de fazerem testes de álcool se assim o entenderem. As pessoas que quiserem fazer o teste de álcool respondem também a um inquérito muito curto. Podem fazer os testes de álcool que quiserem, porque estes têm um duplo sentido. Por um lado percebem com que taxa de álcool estão e por outro percebem como é que o corpo responde ao álcool. As fisiologias são diferentes de pessoa para pessoa e é preciso que cada um entenda como é que o corpo responde e o que é que lhe está a acontecer à medida que vai bebendo. Isto tudo leva-nos a outro efeito – a tolerância.

Em que consiste a tolerância?

Consiste em perceber que quando nos sentimos menos embriagados não quer dizer que tenhamos menos álcool, o corpo é que começa a aguentar mais, ou a desenvolver tolerância. Por outro lado, o teste também é uma porta de entrada para outro tipo de conversas sobre outro tipo de substâncias. É diferente fumar Haxixe e beber álcool de beber álcool e fumar Haxixe, são as mesmas substâncias, podem ser nas mesmas quantidades, mas as interacções delas produzem efeitos diferentes.

Qual é exactamente a diferença?

Por exemplo, o pico de álcool é muito mais lento se for consumido o Haxixe e depois o álcool, do que se for consumido o alcool e depois o Haxixe, aqui há um pico de álcool muito elevado. Se virmos pessoas que vão jantar e a seguir ao jantar fumam uma ‘ganza’ ficam mal dispostas, mas se formos ver pessoas que antes de jantar fumaram uma ‘ganza’ e depois beberam um copo, essas não ficaram mal dispostas. É esta a lógica.

Então ‘o segredo’ é fumar antes?

Isso já não é comigo eu não aconselho a consumir nem a não consumir, eu limito-me a explicar o que as coisas são e as pessoas tomam as opções que querem. A nós interessa-nos é que tomem opções informadas dos riscos e das interacções. Há outras interacções, como exemplo falei nesta do Haxixe porque o Haxixe interage com muita coisa. Nós percebemos pelos dados que tivemos que as pessoas que consomem Haxixe bebem muito mais álcool do que as que não consomem e há uma interacção muito grande. Isso acontece também com a cocaína, as pessoas que consomem cocaína bebem muito mais, mas a cocaína ‘abafa’ o efeito do álcool, então é normal que a pessoa para querer ter os mesmos efeitos de embriaguez tenha que beber muito mais. É preciso que as pessoas percebam isso, porque quando o efeito da cocaína passa, vem o efeito do álcool e podemos ser apanhados de surpresa.


Que outro tipo de intervenções costumam fazer?

Estes são os tipos de intervenções que podemos dar às pessoas, como por exemplo o mito de beber muita água, as pessoas já percebem que têm que ir bebendo e nunca se encherem de água; as temperaturas; o espaço chill out, todo este tipo de informação. O teste de álcool é uma porta para este tipo de conversas e para nós também percebermos como é que as coisas se estão a passar, porque o objectivo deste programa é também recolher informação e o que hoje mostrei aqui na minha apresentação, são resultados dos nossos inquéritos, onde queremos perceber como é que as pessoas se movimentam. Normalmente nem se movem muito, começam e acabam a noite nos sítios onde estão. Depois preocupa-nos saber se costumam consumir outras coisas ou não.


Que tipo de conclusões vão tirando com estes inquéritos?

Percebemos que as mulheres bebem muito menos do que os homens porque elas têm uma taxa de alcoolemia muito mais baixa, o que significa que se a mulher tiver a mesma taxa de alcoolemia do homem quer dizer que bebeu menos por causa da própria fisiologia, uma vez que a mulher tem menos tolerância ao álcool.

Depois de beber algumas vezes, vai ganhando tolerância?

A mulher tem menos tolerância à taxa de álcool, no entanto, em termos de taxa e efeito do álcool a mulher é mais forte do que o homem, devido à parte cultural, mas depois desenvolve tolerância, ou seja, os efeitos de embriagues podem ser menores, mas isso também é subjectivo, porque nós avaliamos a taxa de álcool e se as mulheres, para terem uma taxa de álcool semelhante bebem menos, para terem uma taxa de álcool muito menor, bebem ainda menos, isto é estatisticamente muito significativo. Sabemos por exemplo que quantos mais parceiros sexuais se tem, maior é a taxa de álcool.

Quer dizer que o número de parceiros sexuais influencia a taxa de consumo de álcool?

Nós fazemos uma pergunta às pessoas que consiste em saber quantos parceiros sexuais tiveram nos últimos 6 meses e quanto maior o número de parceiros sexuais, maior é o número de taxa de álcool dessas pessoas.

Se calhar é o oposto, quanto maior a taxa de álcool maior é o numero de parceiros?

É isso, nós também não conseguimos explicar o que leva a quê, mas conseguimos descrever este ponto: Pode ser que, de facto, as pessoas fiquem mais desinibidas para nos dizerem o que realmente se passa, mas constatamos que as pessoas que apresentam mais parceiros sexuais são as que apresentam uma maior taxa de álcool.

Que serviço é este, exactamente?

Nós formulamos esta pergunta em inquérito porque achamos que seria importante. Percebemos que há 25% de pessoas que são utilizadoras frequentes do nosso serviço e o nosso objectivo é retirar alguns mitos como: o Extasy e o Haxixe não fazem mal; mitos em todos os sentidos.

Ainda existem pessoas que desconhecem as consequências do Extasy?

Claro, mas quem é que sabe disso? Então repara, na noite o pessoal ‘mete’ pastilhas, duas, vinte ou trinta e às tantas descompensa, o que acontece é que essas pessoas saem da noite e nunca mais lá aparecem, quem passa mal sai da noite, logo, não há uma visibilidade das consequências de uma determinada substancia, enquanto que com a heroína toda a gente vê os toxicodependentes a arrumar carros.

Provavelmente os das pastilhas vão para hospitais…

Vão a hospitais, mas o pessoal que consome isso não tem a visibilidade dos problemas que podem vir a ter. Nós ainda vamos apanhando alguns que passam muito mal, o mesmo acontece com a cocaína que neste momento é um problema grave porque está a ser vista como uma droga que não causa problemas.

E cada vez mais é consumida por uma classe social diferenciada…

Está na moda e fica bem e por isso está a entrar ‘na noite’ muito rapidamente. É importante que se faça chegar às pessoas a ideia de que nós também os podemos ajudar e para tal temos que saber sobre outras substancias para além de heroína e por isso prestamos serviços de retenção de riscos em muitos C.A.T. durante as consultas, neste mês, por exemplo, estamos a fazer o mesmo nas ruas e é importante explicar à nossa população que de facto sabemos trabalhar, sabemos ajuda-los e tentamos levar até eles aquilo que necessitam para terem experiências mais seguras.

Esse é então o vosso grande pressuposto nesta área?

Se existir alguém que nos vem pedir ajuda e vir em nós alguém que até os percebe e que se calhar os pode ajudar, as pessoas não hesitam em nos procurar e, por isso, temos lá uma equipa do tratamento. Nós somos uma equipa de diferentes áreas, eu venho do tratamento, outros vêm da prevenção, outros vêm das reduções de riscos, é uma equipa multidisciplinar, com muitos saberes, temos elementos não licenciados, mas é importante todos termos um tronco comum na maneira de agir para nos conseguirmos ajustar à heterogeneidade da população que temos e, por outro lado, temos um tronco comum que consiste em termos todos o mesmo papel, todos somos mediadores de relação.

Da teoria à pratica

«Desde que usemos a dose apropriada não há razões para não obtermos um bom resultado», foi com esta frase que Marc Auriacombe revelou, em entrevista à revista dependências, o seu positivismos em relação aos futuros tratamentos com suboxone, a substancia apresentada no XX encontro das Taipas.

Quais foram as conclusões dos estudos que apresentou hoje no encontro das taipas?

Eu apresentei vários estudos mas as conclusões cruciais são que nós podemos ter os mesmos resultados com metadona e com (o nome da substancia que não consigo perceber). Se a usarmos apropriadamente, se a aplicarmos nos tratamentos adequados com as doses apropriadas e ainda num ambiente apropriado, estes dois medicamentos são adicionáveis para os pacientes. De qualquer modo, elas também provocam diferentes efeitos, alguns pacientes adaptam-se melhor a uma substância ou a outra. No entanto, nós ainda não conseguimos precisar que tipo de paciente se adapta melhor a uma ou a outra.

Poderia-nos contar a sua experiência com suboxone no seu País?

Suboxone é um (o nome da substancia) e por isso esperamos obter os mesmos resultados. Desde que usemos a dose apropriada não há razões para não obtermos um bom resultado.

Não tiveram ainda experiências com Suboxone em França?

Nós já tentamos mas ainda estamos limitados aos estudos e a pesquisas com a substância.

Os novos usos das velhas substancias

«O álcool é o grande aglutinador da socialização dos jovens». Foi com esta frase que Juan Llopis Llacer, em entrevista à revista dependências, caracterizou um dos flagelos da sociedade mais jovem do século XXI ao mesmo tempo que nos fala da problemática dos novos usos das substancias mais antigas.

Trouxe-nos uma apresentação sobre novas substâncias, pode-se falar das novas substanciam nos dias de hoje?

Pode-se falar de novos usos, novas substancias desde os princípios do século XX, problemas que agora surgem de outra forma e noutro contexto e, por isso, pode-se falar de novas substancias, ou melhor, velhas substancias com novos usos.

Podemos dizer que há respostas para essas novas substâncias?

Temos que ter novas respostas até porque os novos usos ultrapassam as respostas e como tal temos que ser criativos e inventar novas respostas, modificando os nossos programas, as nossas intervenções com novas formas de tratar para que possamos adaptar-nos aos novos usos das substancias e obter uma resposta valida.

Quando falamos de usos ou novos abusos estamos a falar de gente mais nova?

Sim gente mais jovem e principalmente gente jovem sem conhecimentos e sem percepção dos riscos, isto sim é um problema, nestes casos os usos são mais abusivos, com mais risco e mais problemáticos. Estas substancias criam problemas que passam para outras substancias como as que já conhecemos, como a cocaína e a heroína e nestas parece-me que temos respostas, mas claro que falamos de jovens que chegam a estas drogas, não directamente como antes, mas através de drogas estimulantes, dos extasies, das anfitaminas e derivados.

E o álcool como está?

O álcool é o grande aglutinador da socialização dos jovens, hoje em dia os jovens socializam-se através do álcool, este é o aglutinador da cultura juvenil mais jovem, com 13 e 14 anos.

Já temos respostas?

Infelizmente não temos respostas e actualmente é já um problema social, não é um problema sanitário e, por isso, não temos respostas. Só há respostas sociais, só há respostas legais, respostas do tipo governativo e policial, sanitárias ainda não temos.

Se ainda não temos respostas, existem culpados?

Eu não diria que há culpados porque os culpados seríamos todos, é a cultura que criamos, a cultura do rápido e do imediato, do lúdico, aí está a culpa, é a cultura que criamos, mas isso criamos todos.

Que pensa do XX encontro das Taipas?

Estou apaixonado pelo encontro das Taipas, é um prazer estar aqui porque é um dos poucos sítios que participo e vejo que se partilham muitas coisas, por exemplo, a mesa onde estava partilhavam ideias muito avançadas e diversificadas, como por exemplo, falavam de cocaína, de planos psiquiátricos ou sociais e isto não se vê noutros congressos onde só se discutem questões biológicas ou só sociológicas e aqui encontra-se um tronco multidisciplinar, o que me parece o mais interessante.